sábado, 4 de setembro de 2010
A menina borboleta
Jamile, esse era o nome da menina. Uma Ferreira, como eu.
Tinha nove anos, era de Várzea da Roça, sertão da Bahia.
Para a multidão de romeiros,em Bom Jesus da Lapa,a atração era a banda de pífaro.
Para mim, contagiante era o sorrido daquela menina, altiva,em cima do pau-de-arara,ao lado dos irmãos Adriano, de 11 anos, e João Neto, de 14.
A menina alisava seus cabelos,sorria para o céu, alheia ao burburinho, aos sinos da igreja chamando para mais uma missa, à musica dos artistas, como se apenas o chilrear dos pássaros fosse a trilha sonora do seu glorioso momento.
A menina enxergava o mundo com os olhos da sua idade, relia o passado, pedia licença ao futuro.
A menina, os irmãos e seus pais enfrentaram longa viagem, de 12 horas, comendo paçoca de carne, tomando Coca-Cola,dormindo na esteira estendida em meio aos bancos de madeira da carroceria, empapuçada de fiéis.
A menina, e toda a sua família, estavam ali pagando promessa.
Quando nasceu, a menina, de tão doente, teve seus dias contados.
Mas a mãe, em sua fé fervorosa, e distante quilômetros do marido, tratorista no Rio de Janeiro, entregou a filha ao Senhor Bom Jesus.
Diante da imagem do santo, a mãe prometeu somente cortar os cabelos da filha aos pés do Senhor Bom Jesus da Lapa, quando pudesse, ou tivesse, condições de pagar e viajar por muitas horas.
E horas, dias, anos se passaram.
Naquele fim de tarde,
iluminada pelos lampejos dourados do crepúsculo vespertino,
lá estava a menina,
em cima do pau-de-arara,
feliz não apenas por se sentir mais bela,
ou ter cortado os cabelos pela primeira vez na vida.
A menina estava radiante,
mas de agradecimento,
satisfação,
dever cumprido.
Sua vida deixou de ser uma promessa.
Naquele momento, quem prometia era a vida.
Pedro Ferreira
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