rapa de angu é um bom tira gosto - foto da Leticia Caetano

domingo, 22 de agosto de 2010

Diário de bordo - Pedro Ferreira


37 dias pelo Velho Chico
Ah, Dona Lourdes Barroso, quem diria, heim? Quando menina, lá em Serrinha, sertão da Bahia, sempre pedia a Deus para que nunca se apaixonasse por um homem chamado Francisco. Assim ela me disse quando tive o privilégio de conhecê-la em 2001, em Pirapora, Norte de Minas.
O pai dela tinha15 filhos e criava uma porção de porcos com a comida que as crianças deixavam no prato. E todo porco o pai dela chamava de Chico. E a menina dizia, em voz arrastada e cantada, como todo bom baiano: "Ai, meu Deus, nunca deixe me apaixonar por um homem chamado Francisco".
Na época da Ditadura Militar, Lourdinha Barroso era cantora da Rádio Excelsior em Salvador, foi perseguida pelos militares devido ao seu envolvimento político e fugiu infiltrada numa companhia de teatro. Chegando em Barra, desconfiada que estava sendo seguida, entrou no primeiro barco a vapor que encontrou pela frente no Rio São Francisco. Coincidentemente, era o vapor São Francisco, do comandante Francisco Barroso, por quem ela se apaixonou perdidamente.
Durante muitos anos, Dona Lourdes subiu e desceu o Velho Chico ao lado do seu grande amado, parando sempre em Bom Jesus da Lapa para comprar sedas, roupas intimas, comer carne de tatu no restaurante e dançar forró. O tempo passou, Dona Lourdes virou estrela cantando para os passageiros do barco e ela e seu comandante tiveram Francisleide e Francisco Barroso Júnior.
Hoje, Dona Lourdes, que vive de lembranças e suspiros pelo seu grande amor que Deus levou, mora em Pirapora. É carranqueira, esculpe imagens de São Francisco e faz parte da Ordem Franciscana. E ela agradece a Deus todo santo dia por não ter ouvido as suas preces de menina. Pelo contrário, a presenteou não com um, mas com vários Chicos.

Um comentário: