Pronto, rápidinho ela chegou aos 80 anos. A pele continua
lisa, limpa, corada. Os cabelos, numa mistura de branco do tempo e de amarelo
da tinta, sempre foram poucos e por isto, um coque com um pingente dourado
sempre dá um super charme no penteado de última hora. Sua energia é
contagiante. Vai prá praia, pro mato, piscina. O corpo está meio cansado e os
pés não acompanham sua caminhada – resultado de uma queda no passeio da casa. E
lá está ela com quatro parafusos incomodando e, como incomoda, até prá tomar
sol. Ela diz que esquenta. Mas é assim mesmo. A cervejinha gelada que até então
foi sua parceira constante, hoje foi substituída pela cerveja sem álcool – uau,
que gosto ruim. Ela não se importa – tá tomando muito remédio e não pode misturar
com o alcool. Fazer o que, né? Mulher arretada, desde os 15 anos encarou o
trabalho, se embrenhou pela educação.
Durante quinze anos ensinou o b-a-ba. Depois virou Secretaria Executiva,
conta orgulhosa. O pai era político e como era contra o governador na época,
teve de deixar a sala de aula.Apaixonou-se pelo primeiro homem que conheceu e
deu o primeiro beijo na boca no dia em que se casou. Histórias sem fim. De
adrenalina. Ela conta que o pai não queria o namoro porque ela era muito
menina. Não adiantou. Paixão é assim. Eu via ele e ficava louca, conta. Ela
lembra também de um vestido cor de rosa com uma violeta de verdade na gola. Tinha
14 anos. Foi para uma festa e ele estava lá, a paixão. Coração acelerou. Não
sabia que ia vê-lo tão cedo. Aconteceu. Mas a emoção não durou muito. O pai
castigou. Rasgou o vestido, ela conta. Lembra da violeta despetalando no ar, caindo no chão. Sofri muito, conta.
Mas ela sorri. Lembra das dificuldades de uma mulher de 20 anos separada, na
época, com quatro filhos. Era década de 50/60. Era mulher mal vista pelas
outras mulheres. Não tinha amigas por isto. E ela continuou seu caminho.
Trabalhando de 7 às 10 da noite. Tinha
que comprar roupa e comida para as quatro bocas. Moravam na casa do seu pai, em
Santa Efigênia, conta. Casou e casou de
novo. Foi bom, sempre fui uma mulher apaixonada, ela lembra. E agora, aos 80?
Quero amar mais, voltar a tomar minha cervejinha gelada e viajar, ah, como
gosto de uma boa viagem.
Parabéns dona Eclair!
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