domingo, 14 de março de 2010
Minha alegria tem nomes
Minha alegria tem nomes...
Pequenos fios de linhas coloridos se espalhavam pelo chão do quarto verde de cortina vermelha.
Novamente ela abria o lençol branco na cama para ver o novo nome para bordar, selecionar a cor para não ficar com os nomes perto dos outros com a mesma cor. Já foram bordados 34 nomes.
A primeira cor da linha usada para bordar foi a vermelha e o primeiro nome o da Bárbara.
A mágica estava começando. Ela não imaginava o tanto que ia demorar e o tanto que se envolveria com a nova história . História dos amigos, tios, avó, irmãos, amores. Histórias e lembranças que se tornaram vivas em cada linha que enfiava na agulha, em cada ponto que começava. Cada nome insinuava uma história com finais alegres , tristes ou talvez sem final. O momento era mágico. Ao bordar o nome da Bárbara ela se lembrava dos shows na Praça da Estação que elas iam juntas. Das corridas de mãos dadas com a Bárbara para ver as peças de teatro de rua que pipocavam pela cidade no Festival de Teatro . Das nossas caminhadas pela Savassi, das paradas no Mac Donald, que era sua paixão na época. Depois de bordado o nome da Barbara ela passou para os nomes da Eclair, Calu, Lu e Zeca.
Eram momentos únicos, dela.
Todo dia ela corria para o quarto verde para continuar o bordado, para acrescentar mais um nome na colcha. Olhava as cores, sorria e pensava em mais um nome. Ela se sentia como uma menina que não podia perder aqueles momentos por nada .
Do vermelho veio o azul, o verde, o amarelo, o rosa.
E agora, com qual cor serão bordados os nomes do Marcelo? Do Nelson, Dario e Cesinha? E da Eclair, Edmilson, Lita, Pedro e Mauro?
Todos tinham uma grande história e mui to carinho para serem lembrados e bordados, pensava. Bordava com cuidado. As lembranças se misturavam as cores, a agulha e a linha que as vezes davam nó. Aí tinha que cortar, enfiar de novo a linha na agulha De novo a indagação. Com que cor vou bordar a Beth, o Cesar, o Tiago a Luísa, a Amelinha, o Dany, a Ção e a Giza?
Maravilhosamente as cores começavam a criar beleza, a colcha estava ficando linda, pensava. E estava quase pronta.
Os pedaços das linhas que cortava se espalhavam pela casa. O bordado estava envolvendo a casa toda, assim como todas as pessoas que estavam sendo bordadas na colcha. Queriam saber a cor, o local que estavam.
Cada vez mais excitada , ela passou a transferir quase que seu dia todo para a colcha. Acordava mais cedo e as tardes de sábados e domingos já estavam reservados para o bordado. Estava totalmente envolvida com as cores, as histórias que surgiam em cada nome que bordava.
Um balaio foi comprado para guardar as linhas, as agulhas e a tesoura.
Ela não sabia como surgiu a idéia da colcha que consumia seus dias.
Assim, aos poucos, a história e os personagens da sua vida foram surgindo nas cores da colcha. Obedecia às mãos, ao seu próprio jeito. Aos poucos foi aprendendo que a linha tem que ser curta para não dar nó no meio e as letras redondas devem se desviar para não ficar torta. Aos poucos as linhas estavam repetidas. Comprou outras cores como a cor laranja bem forte lembrando o sol, um rosa lilás como as flores do seu imaginário jardim. Bordava com cuidado, para os pontos ficaram retos, sem desvios. Escolhia a cor e pensava em quem mais bordaria ali.
A colcha estava quase pronta. Pouco pano se via entre os fios coloridos.
Só que ela não sabia que a colcha ia demorar muito para ficar pronta...
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Lindo, lindo, lindo!
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