rapa de angu é um bom tira gosto - foto da Leticia Caetano

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

As cores do MX

CORES

Há muito mais cores na cidade além do vermelho, do amarelo e do verde dos sinais de trânsito. Dê atenção a elas, claro, mas olhe mais, muito mais. Vivemos imersos em gigantesca pintura tridimensional. Não há sequer um ponto à nossa volta sem cor – incluindo o céu e suas fantásticas mutações.
Cor é música, música é cor – o som da luz. Como notas musicais, cores sobem e descem escalas, formam acordes perfeitos ou dissonantes, variam na intensidade, volume e harmonia, se prestam a infinitas composições. Corra os olhos pelo interior da casa antes de deixá-los voar pela janela. Procure um vazio de cor – não haverá. Onde termina uma, outra a sucede, e infinitamente. Tudo que nos cerca – móveis, objetos, tecidos, pisos, tetos, paredes – soa determinada cor como instrumento de uma orquestra.
Abra as cortinas e assista à sinfonia que se apresenta lá fora: o extraordinário mosaico em cores traduzido por uma composição musical polifônica – tons, semitons, microtons, nuances, volumes, texturas. Ouça as cores da arquitetura em acordes comedidos – “pianissimos” beges, brancos, cinza. Belos, os contrapontos “forte” e “fortissimo” dos ipês amarelos, dos flamboyans vermelhos, das quaresmeiras roxas. Observe os solos de metais dos veículos nas ruas – há brancos, pretos, prata, laranja intenso, amarelos, azuis...
Mire as pessoas: pele, cabelos, lábios coloridos são canções sensuais. Roupas cantam cores em uníssono, duetos ton-sur-ton, trios desafinados, arranjos policrômicos. Nos colares, pulseiras, brincos as cores tocam notas falsas de esmeraldas, safiras, rubis em “staccato” e “legato” de fios e voltas.
Na caótica ópera urbana, ouvem-se agudos de soprano nas cores dos painéis publicitários. Em outra ária, a das margens imundas do rio social – sob os palcos da cidade-espetáculo –, as cores graves da miséria soam tristes solos de contrabaixo.
Nas pausas, cores exaustas esperam pelo azul, pelo amarelo e o vermelho dos ônibus de seus destinos – lotados, em irritante “ralentando”.
A magnífica pintura da cidade é obra coletiva. Cada uma de suas cores tem autoria – arquitetos colorem edifícios, moradores pincelam morros, designers pintam veículos, grafiteiros acendem muros e meninos tocam o céu com as notas coloridas das pipas...

Jornal Hoje em Dia / 5 fevereiro

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