as quaresmeiras

As quaresmeiras

Durante horas ela ficou sentada no banco da praça cercada de quaresmeiras lilás e buganvilles vermelhas. Apesar do colorido das flores e das crianças que brincavam, seus pensamentos estavam longe dali. Novamente ela se lembra dos momentos que passou com ele. Das camas desarrumadas dos hotéis das várias cidades em que fizeram amor, dos cantos da sua casa que se entregaram com prazer, dos gemidos, gritos, sussurros. Como gostaria de se entregar totalmente para ele, pensa. Como gostaria de não se entregar mais para ele, pensa. E fica tudo confuso. No mesmo instante que ela acha que é assim mesmo, que as coisas vão acontecendo, que a emoção vem e vai, que os amores são passageiros. Mas este não é passageiro, pensa. É uma emoção forte que quando se encontram não importa se foi há um ou seis meses , as emoções afloram em todo o corpo. As roupas vão sendo jogadas no chão num ímpeto de desejo. E tudo explode dentro dela.
Pudera ela sentir isto pelo outro que sempre lhe procura com presentes, pensa. Ele oferece flores, perfumes. Ele oferece amor completo. Por que será que ela não quer? Ia ser tudo mais fácil.
Suas conversas varam a noite mas ela não sente nada por ele. Ele dorme no silencio da sala da casa e não diz nada, apenas um olhar pedinte, Pela manhã, silenciosamente, ele sai bem cedo, coloca a chave debaixo da porta. Mais tarde ele liga perguntando se ela dormiu bem. É tão estranho, ela pensa. O mesmo acontece com o segundo que chega na sua casa oferece presentes, oferece amor. E como sempre ele saí sem a menor esperança. Ela vai dormir novamente sozinha. Por que não gosta dele? Pensa. Ele é um homem tão interessante, tantas mulheres o desejam. Tantas gostariam de estar ali com ele. É um cara charmoso e inteligente que, como ela, adora flores,cachorro, mato.
Novamente ela olha para as quaresmeiras que só florescem nesta época do ano e ocupam todos os espaços da praça com suas cores roxas e fortes. Talvez elas são tão bonitas assim porque só florescem uma vez no ano. E chegam embelezando as ruas, praças e avenidas . Elas se tornam as vedetes na cidade. Impossível não admirá-las, não parar para apreciar tanta beleza. A praça está toda colorida, aos poucos o vento, que chega de mansinho, sopra nas árvores e faz com que as pétalas se desprendam das árvores e , aos poucos, cobrem todo o chão. É como um tapete colorido. A vontada é tocá-las. E toca. Suavemente pega uma e, como sempre faz, a coloca na orelha como um brinco. A vida seria mais fácil se tudo fosse assim, pensa. Se tudo fosse só cores, flores e seus pensamentos não ficassem tão emaranhados suspirando nos cantos pelo seu amor...